POLÍTICA EXTERNA

Governo Lula é contra entrada da Venezuela no Brics

Assessor especial da Presidência da República e ex-chanceler, Celso Amorim afirmou que o bloco precisa conservar a sua essência de países expressivos

Por Renato Alves
Atualizado em 22 de outubro de 2024 | 09:58

BRASÍLIA - O Brasil é contra a entrada da Venezuela no Brics. A posição que circulava nos bastidores foi externada na segunda-feira (21), um dia antes do início da cúpula do bloco, por Celso Amorim, assessor especial da Presidência da República e ex-chanceler. 

“Há um excesso de nomes colocados à mesa. O Brics tem que conservar a sua essência de países expressivos e com influência nas relações internacionais. Não estou diminuindo os outros países [candidatos], mas para isso tem a ONU e o G-77″, afirmou o embaixador ao Estadão.

Entre os cerca de 30 países que desejam ingressar no novo grupo estão Venezuela, Nicarágua, Bolívia, Cuba, Turquia, Nigéria, Marrocos e Argélia. Fundado em 2014, a entidade que reúne os Brics reunia apenas Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Em 2021, foram incluídos Bangladesh, Emirados Árabes e Egito. Em 2023, houve consenso para que outros cinco países entrassem: Argentina, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos e Irã.

Amorim evitou criticar especificamente o pleito da Venezuela para entrar nos Brics. “Não quero fulanizar, mas o Brics precisa manter a influência internacional que pode contribuir com o equilíbrio e a paz, sobretudo neste momento em que estamos vivendo duas guerras”, afirmou.

Antigo aliado do regime chavista, Lula tem se distanciado de Nicolás Maduro por causa da postura adotada por ele nas eleições presidenciais deste ano. O Brasil exigiu a apresentação das atas eleitorais, mas o regime de Maduro nunca as divulgou.

Já Amorim concentrou as críticas na Nicarágua, que também deseja fazer parte do bloco. “O Brasil não pode aceitar a entrada da Nicarágua porque eles foram ofensivos”.

Em agosto, a ditadura de Daniel Ortega expulsou o embaixador brasileiro, Breno de Souza Brasil Dias da Costa, em razão da ausência do diplomata no aniversário da Revolução Sandinista. Adotando a reciprocidade, elementar na diplomacia, o Brasil reagiu e expulsou a embaixadora nicaraguense em Brasília, Fulvia Matu.

Lula e Putin vão conversar por telefone

Antes da declaração ao Estadão, Amorim esteve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Palácio da Alvorada. Lula cancelou sua ida à Rússia para a cúpula do Brics após sofrer um acidente doméstico, e indicou o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, como chefe da delegação brasileira no fórum.

Lula e Putin devem conversar por telefone na manhã desta terça-feira (22). A reunião faz parte da agenda dos presidentes no primeiro dia da cúpula do Brics, que vai até quinta-feira (24). Realizada em Kazan, na Rússia, é a primeira com a nova composição do bloco, que foi ampliado no ano ado, com a inclusão de mais cinco países.

Em Kazan, que fica a cerca de 700 quilômetros a leste de Moscou, Lula e Putin teriam o primeiro encontro durante o terceiro mandato do presidente brasileiro. Em setembro, eles conversaram por telefone sobre uma proposta conjunta do Brasil e da China para acabar com a guerra na Ucrânia. 

Por recomendação médica, Lula cancelou de última hora a viagem até a Rússia, após sofrer uma queda em um dos banheiros do Palácio da Alvorada no último sábado (19). Ele teve um trauma e um corte na cabeça. Precisou levar pontos na nuca. Desde então, se mantém na residência oficial, onde tem recebido ministros para reuniões oficiais. Lula completará 79 anos no próximo domingo (27).

Putin deve se encontrar com Guterres

Na cúpula em Kazan, Putin realizará cerca de 15 reuniões bilaterais, inclusive com os líderes de China, Xi Jinping; Índia, Narendra Modi; África do Sul, Cyril Ramaphosa; Turquia, Recep Tayyip Erdogan; e Irã, Masoud Pezeshkian. 

É esperado que Putin se reúna na quinta-feira com o secretário-geral da ONU, António Guterres, após a cúpula do Brics. O encontro, que a ONU não confirmou, será a primeira reunião Putin-Guterres na Rússia desde abril de 2022, dois meses após o início da invasão militar russa na Ucrânia. 

Guterres criticou a atitude russa em diversas ocasiões, afirmando que estabelece um “precedente perigoso” para o mundo, e defendeu uma “paz justa” que respeite o direito internacional e a “integridade territorial” da Ucrânia. 

Durante sua visita em 26 de abril de 2022, Guterres discutiu com Putin propostas de assistência humanitária e de remoção de civis das zonas de conflito, segundo um relatório da ONU. 

Já o Ministério das Relações Exteriores ucraniano considerou que Guterres tomou “uma decisão equivocada” quando declinou o convite da Ucrânia para a primeira cúpula para a paz e aceitou o convite para ir a Kazan. “Isso só prejudica a reputação da ONU”, criticou no X.