BRASÍLIA - Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Vladimir Putin conversaram por telefone na manhã desta terça-feira (22). No diálogo, que durou cerca de 20 minutos, os líderes do Brasil e da Rússia falaram sobre o Brics.
Em nota, o Palácio do Planalto informou apenas que Putin quis saber do estado de saúde de Lula, e lamentou que ele não pode ir à cúpula dos Brics, "e o presidente Lula também, devido ao acidente sofrido no sábado". Confirmou que "serão feitos os arranjos para a participação dele na reunião por videoconferência".
Lula recebeu a ligação no Palácio da Alvorada. Ele cancelou sua ida à Rússia para a cúpula do Brics após sofrer um acidente doméstico, e indicou o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, como chefe da delegação brasileira no fórum.
A conversa ao telefone faz parte da agenda dos presidentes no primeiro dia da cúpula do Brics, que vai até quinta-feira (24). Realizada em Kazan, na Rússia, é a primeira com a nova composição do bloco, que foi ampliado no ano ado, com a inclusão de mais cinco países.
Fundado em 2014, a entidade reunia apenas Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Em 2021, foram incluídos Bangladesh, Emirados Árabes e Egito. Em 2023, ingressaram Argentina, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos e Irã.
Em Kazan, que fica a cerca de 700 km a leste de Moscou, Lula e Putin teriam o primeiro encontro durante o terceiro mandato do brasileiro. Em setembro, eles conversaram por telefone sobre uma proposta conjunta do Brasil e da China para acabar com a guerra na Ucrânia.
Brasil e China elaboraram proposta de paz para encerrar a guerra entre Rússia e Ucrânia. Ela tem seis pontos, entre os quais uma conferência internacional “que seja reconhecida tanto pela Rússia quanto pela Ucrânia, com participação igualitária de todas as partes relevantes”.
A proposta também engloba a rejeição ao uso de armas de destruição em massa e aos ataques contra usinas nucleares – e rechaça a “divisão do mundo em grupos políticos ou econômicos isolados”.
Os termos do documento, no entanto, foram rejeitados pelo presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski – que chamou a proposta de destrutiva – e por aliados de Kiev no Ocidente. Para eles, a posição sino-brasileira premia a Rússia e autorizaria a Rússia a anexar territórios ocupados.
Na cúpula em Kazana, Putin realizará cerca de 15 reuniões bilaterais, inclusive com os líderes de China, Xi Jinping; Índia, Narendra Modi; África do Sul, Cyril Ramaphosa; Turquia, Recep Tayyip Erdogan; e Irã, Masoud Pezeshkian.
É esperado que Putin se reúna na quinta-feira com o secretário-geral da ONU, António Guterres, após a cúpula do Brics.
O encontro, que a ONU não confirmou, será a primeira reunião Putin-Guterres na Rússia desde abril de 2022, dois meses após o início da invasão militar russa na Ucrânia.
Guterres criticou a atitude russa em diversas ocasiões, afirmando que estabelece um “precedente perigoso” para o mundo, e defendeu uma “paz justa” que respeite o direito internacional e a “integridade territorial” da Ucrânia.
Durante sua visita em 26 de abril de 2022, Guterres discutiu com Putin propostas de assistência humanitária e de remoção de civis das zonas de conflito, segundo um relatório da ONU.
Já o Ministério das Relações Exteriores ucraniano considerou que Guterres tomou “uma decisão equivocada” quando declinou o convite da Ucrânia para a primeira cúpula para a paz e aceitou o convite para ir a Kazan. “Isso só prejudica a reputação da ONU”, criticou no X.