DELAÇÃO PREMIADA

Cid diz que mundo dele era Bolsonaro, se queixa que ex-presidente ficou milionário e ele perdeu tudo

Declarações foram reveladas em delação premiada divulgada nesta quarta-feira, que teve o sigilo derrubado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF

Por O Tempo Brasília
Atualizado em 19 de fevereiro de 2025 | 17:11

BRASÍLIA - Em depoimento, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), afirmou que o seu “mundo” era o ex-presidente, mas negou ter participado de "planejamento detalhado" de tentativa de golpe

"Eu não participei de nenhum planejamento detalhado, de nenhuma ação, meu mundo era o mundo do presidente, eu não estou mentindo, não estou omitindo [...] o meu mundo era o presidente, o meu mundo de ação era o presidente, eu estou falando a verdade aqui", afirmou. 

As declarações foram reveladas após a retirada do sigilo da delação premiada do ex-ajudante de ordens, nesta quarta-feira (19), pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). No acordo firmado com a PF, e homologado pelo STF, o militar prestou informações sobre uma suposta trama golpista para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2023. Em troca, pediu benefícios como a redução de eventuais penas e proteção a familiares. 

Mauro Cid também se queixou, em depoimento prestado ao STF, de que Jair Bolsonaro “se deu bem, ficando milionário”, enquanto ele próprio “perdia tudo” e sua carreira estava “desabando”. Em um áudio obtido durante a investigação, ele dizia que “todos se deram bem, ficaram milionários”.  

Questionado pelos investigados sobre a quem ele se referia, o tenente-coronel declarou que “estava falando do presidente Bolsonaro, que ganhou Pix”, enquanto ele mesmo tinha “perdido tudo”. 

“(Cid respondeu que) estava falando do presidente Bolsonaro, que ganhou Pix, aos generais que estão envolvidos na investigação e estão na reserva. E no caso próprio perdeu tudo. A carreira está desabando. Os amigos o tratam como um leproso, com medo de se prejudicar. Não é político, não é militar, quer ter a vida de volta. Está enclausurado. A imprensa sempre fica indo atrás. Está agoniado. Engordou mais de 10 quilos. O áudio é um desabafo. Acredita que as pessoas deviam o estar apoiando e dando sustentação”, diz um trecho da transcrição do depoimento. 

A fala refere-se ao fato de que Bolsonaro recebeu R$ 17,1 milhões em suas contas por meio de transferências bancárias realizadas por Pix entre janeiro e julho de 2023, possivelmente de uma 'vaquinha' promovida por seus apoiadores para pagar multas processuais. 

Na terça-feira (18), o procurador-geral da República, Paulo Gonet, apresentou denúncia contra 34 pessoas acusadas de estimular e realizar atos contra os Três Poderes e contra o Estado democrático de direito, entre elas, Mauro Cid e o ex-presidente

Gonet acusou formalmente Bolsonaro por cinco crimes: 

  • liderança de organização criminosa armada
  • tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito
  • golpe de Estado
  • dano qualificado pela violência e grave ameaça, contra o patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima
  • deterioração de patrimônio tombado 

Somadas, as penas máximas previstas para esses crimes podem chegar a quase 40 anos, caso Bolsonaro seja condenado.