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Grupo de extermínio: celular tinha fotografias de vítimas
Além de Pacheco, Zanin e Moraes estavam em lista de grupo de extermínio e espionagem
Organização é formada por militares da ativa e da reserva, além de civis frequentadores de clubes de tiros. Um deles é dono do canal Frente Ampla Patriótica

BRASÍLIA – Os nomes do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e dos ministros Cristiano Zanin e Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), estavam em uma agenda apreendida com um dos integrantes do grupo de espionagem e extermínio descoberto pela Polícia Federal (PF), durante a investigação sobre o assassinato do advogado Roberto Zampieri, conhecido como “lobista dos tribunais”.
Pacheco, Zanin e Moraes seriam alvos da organização criminosa Comando C4 (Comando de Caça Comunistas, Corruptos e Criminosos), formado por militares da ativa e da reserva, além de civis frequentadores de clubes de tiros, que cobrava até R$ 250 mil para monitorar ministros do STF. A espionagem de deputados custava R$ 100 mil. A de senadores, R$ 150 mil. Dados estão em material apreendido pela PF.
O portal UOL revelou que o nome de Pacheco apareceu em anotações vinculadas à expressão “vigilância armada”. Essas referências descreviam uma possível ação de monitoramento em uma data na qual o então presidente do Senado estava voltando ao Brasil de uma viagem ao exterior.
As anotações e conversas também mencionam Moraes e Zanin. Para a PF, essas citações estavam vinculadas ao planejamento de possíveis ataques aos ministros do STF, ainda segundo o UOL.
A organização criminosa também mantinha arsenal de guerra para suas “operações”. Entre eles, fuzis de sniper com silenciador; pistolas com silenciador; lança-rojão tipo AT 34 de ombro; minas magnética e explosivos com detonação remota. Parte dessas armas foi apreendida nesta quarta em Minas Gerais.
“Externo meu repúdio em razão da gravidade que representa à democracia a intimidação a autoridades no Brasil, com a descoberta de um grupo criminoso, conforme investigação da Polícia Federal, que espiona, ameaça e constrange, como se o país fosse uma terra sem leis”, disse Pacheco em nota. Zanin e Moraes não haviam se manifestado até a mais recente atualização desta reportagem.
Pacheco presidiu o Senado por quatro anos, até fevereiro de 2025, quando foi alvo de manifestações que pediam intervenção militar e fechamento do Congresso, além da prisão dos ministros do STF.
Moraes era um dos principais alvos dos manifestantes, apoiadores de Jair Bolsonaro (PL), assim como em diversos atos que culminaram na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.
Com base em relatório da PF, Zanin autorizou a 7ª fase da Operação Sisamnes, que também investiga esquema de venda de sentenças em tribunais estaduais e no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Nesta quarta, agentes foram atrás dos mandantes do assassinato de Zampieri. Foi a partir da investigação do assassinato que policiais chegaram ao grupo acusado de negociar compra e venda de sentenças judiciais.
Investigadores também descobriram que os possíveis assassinos do advogado faziam espionagem e atuavam como grupo de extermínio, com pistoleiros profissionais.
Nesta quarta, policiais federais foram às ruas para cumprir cinco mandados de prisão preventiva contra os cinco, além de quatro mandados de monitoramento eletrônico e seis mandados de busca e apreensão no Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais.
Veja abaixo quem são os cinco alvos de mandados nesta quarta e o papel de cada um deles na execução de Zampieri, assassinado com 10 tiros em frente ao escritório em Cuiabá (MT) em 2023. Todos estão presos.
- Aníbal Manoel Laurindo: fazendeiro, foi indiciado pela Polícia Civil de Mato Grosso como mandante do assassinato de Zampieri. O crime teria sido motivado por uma disputa fundiária envolvendo a Fazenda Lagoa Azul, em Ribeirão Cascalheiras (MT).
- Antônio Gomes da Silva: indiciado como executor de Zampieri. Confessou e disse ter recebido R$ 40 mil pelo crime. Na execução , ele se apresentou como capelão e usou boina e bengala como disfarce. Foi filmado por câmeras de vigilância.
- Hedilerson Fialho Martins Barbosa: instrutor de tiro, era dono da pistola 9 milímetros usada no crime e descartada em uma lixeira em uma parada de ônibus em Rondonópolis (MT). Confessou que “indicou” o pistoleiro, mas alegou não ter recebido nada.
- Etevaldo Caçadini de Vargas: coronel reformado, seria financiador do crime. Elem pagou um sinal de R$ 20 mil pelo assassinato, segundo Antônio. O militar disse em depoimento que o pistoleiro foi apresentado a ele como pedreiro e negou envolvimento na execução.
Etevaldo Caçadini de Vargas é dono do canal Frente Ampla Patriótica, criado após os atos de 8 de janeiro de 2023. Segundo ele, o canal no YouTube visa reunir “patriotas e conservadores do Brasil”. Ele publicou 101 vídeos na plataforma, a maioria defendendo golpe de Estado contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por meio de intervenção militar.
Mensagens de advogado morto com 10 tiros sustentam apuração
A investigação sobre a execução de Roberto Zampieri primeiro levou à investigação que resultou no afastamento de cinco desembargadores do Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul (TJMS) em outubro de 2024.
A operação que levou ao afastamento dos magistrados foi subsidiada por milhares de mensagens de texto e áudio recuperadas do celular de Zampieri.
O conteúdo do celular do advogado levantou suspeitas de vendas de decisões por gabinetes de quatro ministros do STJ. Este caso é investigado pela PF e está sob sigilo no STF, sob relatoria do ministro Cristiano Zanin.
A investigação do assassinato é objeto de inquérito da Polícia Civil do Mato Grosso, que indica como uma das motivações processos de disputas de terras que tramitam no Tribunal de Justiça estadual.
Os casos de supostas vendas de sentenças no MS e no MT também são investigados no STJ e no Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Um dos investigados é Anderson Gonçalves, apontado como o principal lobista de Roberto Zampieri, o advogado assassinado. Peritos da PF identificaram áudios de Gonçalves no celular de Zampieri, em que relata cobranças de pagamentos em aberto ao advogado.
Com base em mensagens encontradas no celular de Zampieri, após a morte dele, os desembargadores Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho, de Mato Grosso, foram afastados pelo CNJ em agosto de 2024, também por suspeita de venda de decisões judiciais.
Anderson Gonçalves seria um dos responsáveis por aproximar Roberto Zampieri de desembargadores, tanto em MT quanto em MS, visando decisões favoráveis a clientes do advogado.
Na decisão em que mandou afastar os dois desembargadores do MT, o corregedor nacional do CNJ, ministro Luis Felipe Salomão, também determinou a abertura de investigação sobre reclamações disciplinares contra os dois magistrados, além da quebra de sigilos bancários e fiscal dos investigados e de servidores do Tribunal de Justiça do Mato Grosso, referente aos últimos cinco anos.
Em um dos casos investigados, o CNJ descobriu que os dois desembargadores mantinham uma amizade com Roberto Zampieri e recebiam dinheiro para julgar recursos de acordo com os interesses do advogado. (Com Estadão Conteúdo)