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Luedji Luna explora o amor romântico, afetivo e sexual em “Um Mar pra Cada Um”
Novo álbum da cantora e compositora baiana traz dueto com Liniker e poema de Beatriz Nascimento recitado com o uso de inteligência artificial
Nos eios de barco e de escuna pelas ilhas da Baía de Todos os Santos ela estava lá. Na Lagoa do Abaeté onde o pai a ensinava a nadar ela dominava a paisagem. Na paquera no Porto da Barra, no beijo no Farol da Barra, sua presença mantinha-se inevitável, como uma confidente silenciosa.
“A primeira fonte de amor é a família, e minhas primeiras memórias remetem a esse elemento em torno do qual todo meu afeto foi construído. Sou de Salvador e cresci cercada pelas águas, que, para mim, sempre foram uma metáfora do amor, seja familiar, afetivo ou sexual”, declara Luedji Luna, que acaba de lançar “Um Mar pra Cada Um”, sucessor de “Bom Mesmo É Estar Debaixo D’Água”. Para ela, o álbum atual poderia ser traduzido como “Um Amor pra Cada Um”.
Em cada uma das onze faixas inéditas ela trata sobre o amor, “não necessariamente romântico”, mas com “a intensidade de uma dimensão profunda e oceânica”. “É um trabalho sobre essa busca para tentar entender porque persigo tanto o amor, e, no afã por viver o amor, encontro respostas no álbum”, conta Luedji, que afirma ter ado por “um processo de cura” durante a elaboração do disco.
“Quero dar um amor pra cada um porque quero um amor de cada um. Minhas carências, traumas, as questões mais íntimas da minha subjetividade estão reveladas nas canções desse disco em que me mostro mais vulnerável e sincera do que em todos os outros anteriores”, assegura ela, que estreou no mercado fonográfico em 2017, com o álbum “Um Corpo no Mundo”.
Espiritual
Luedji faz questão de frisar que, embora a temática do amor seja “a guiança do novo trabalho”, ela procurou não tratá-lo de “maneira banal, clichê”, até pela responsabilidade de “encerrar um ciclo” iniciado com “Bom Mesmo É Estar Debaixo D’Água”, indicado ao Grammy Latino na categoria melhor álbum de música popular brasileira em 2021.
Se o romantismo se faz presente, ele pareia lado a lado com “a amizade, o autoconhecimento e a espiritualidade”. “O Ocidente é muito sectário e tem a mania de pensar a espiritualidade de forma apartada, mas ela não é algo distanciado, que precisa ser ado a partir de uma prática religiosa. No frigir dos ovos, somos espírito, e, depois que tive essa compreensão, descobri que a espiritualidade é palpável e pode ser ada com a autoescuta e o respeito à intuição”, afiança Luedji.
Um exemplo dessa perspectiva é “Karma”, em que a alma festeja um sorriso que mostra até o dente siso, e Deus é apontado como caminho da sabedoria. Mas a compositora vai além. “Todo esse disco é espiritual, porque é a expressão máxima do meu espírito, que se expressa cantando a partir da música, da arte, não é uma escolha racional, não tem muita explicação”, reflete Luedji. As letras nasceram de “histórias vividas” ou que ela gostaria de viver.
“Meu processo é variável, costumo escrever muito em trânsito, nos momentos de hiato no avião ou na van, e aí surgem ideias de escrituras, ou recebo um beat e escrevo em cima, também pego o violão e começo a ensaiar uma melodia que remete a uma letra, ou recupero cadernos de escritos antigos”, diz Luedji, para quem produzir um disco é “criar um universo que se adentra”.
Sopros
Com influências do jazz, do neo-soul e do R&B, Luedji inicia seu mergulho com “Gênesis”, instrumental dos músicos baianos Bira Marques, Bruno Mangabeira, Nei Sacramento e Ângelo Santiago, preenchendo a atmosfera com vigor logo de cara. Ela relata que, ao se deparar com “os efeitos de algumas frequências sonoras”, confirmou aquilo que já lhe era intuitivo. “O som é muito potente e nos mobiliza para um lugar além do sensível, de sutilezas psíquicas e curativas”, sublinha.
Ciente dessa potência, ela decidiu conceder esse protagonismo ao som. Tanto que, além da abertura instrumental, as participações especiais privilegiam instrumentistas, como comprovam as presenças da saxofonista britânica Nubya Garcia, do trompetista japonês Takuya Kuroda, e do guitarrista norte-americano Isaiah Sharkey, nesse plural geográfico.
Os arranjos robustos de sopros, com direito a solos, explicitam a reverência ao jazzista John Coltrane (1926-1967), que, com “A Love Supreme”, traduziu “Deus como o amor divino”. “Sou digna de ser amada por ser divina, então começo esse disco com o sopro divino que anima a vida, determinando o início da existência, entendendo o amor como algo seminal, que está no primeiro grão de areia, que deu origem a tudo que vive”, filosofa Luedji.
Na sensual “Salty”, o dueto é com Tali, filha de Deise Cipriano, cantora do grupo Fat Family que faleceu em 2019, vítima de câncer no fígado. “A Tali tem o mesmo timbre e a mesma potência vocal da mãe, nos conhecemos em um projeto de jazz e neo-soul em São Paulo e ela disse que tinha vontade de cantar comigo”, recorda Luedji, cujo primeiro disco que ganhou na vida foi, justamente, do Fat Family, em 1998.
Encontros
“Eles trouxeram a referência da música gospel norte-americana, negra, e abriram caminhos”, enaltece Luedji, que define o encontro com Tali como “uma das faixas mais empolgantes do disco”. Outro destaque é quando ela canta com Liniker a sugestiva “Harém”. “Somos amigas e já fizemos vários trabalhos juntas, mas nunca tinha sido registrado e era uma demanda do público para esse encontro de almas”, sintetiza. Já em “Joia”, Luedji insere uma citação a “Pérola Negra”, clássico de Luiz Melodia (1951-2017).
Ela garante que, ao fechar os olhos, é capaz de ver na sua frente as capas dos discos de Melodia, Milton e Djavan, que o pai e a mãe, sua “primeira escola de música”, ouviam incessantemente. “Ele era um negro gato maravilhoso!”, diz, aludindo ao hit atemporal de Getúlio Côrtes, consagrado na voz ímpar de Luiz Melodia.
A intervenção também se conecta a “Baby, Te Amo”, poema da historiadora e ativista do movimento negro e feminista Beatriz Nascimento (1942-1995), que encerra o lançamento. Assassinada covardemente com cinco tiros num crime bárbaro de feminicídio, a intelectual recita o próprio poema graças ao uso de inteligência artificial.
“Nunca tinha utilizado inteligência artificial para nada, tenho minhas críticas, mas, como homenagem, achei que fazia sentido trazer a voz da poeta ao momento presente, em memória ao trabalho e das contribuições que ela nos deu. Nada como ter a voz da própria Beatriz, que sequer chegou a publicar esse poema”, justifica Luedji. Ela teve contato com os versos ao conhecer Bethânia – filha de Beatriz que atua como bailarina em Nova York – no representativo bairro do Harlem. “É uma poesia de amor”, resume…