Investigação

Caso da joias: 'Sumiu um que foi com a dona Michelle', diz assessor de Bolsonaro 1t4l3x

Investigadores identificaram ao menos cinco itens que teriam sido negociados pelos assessores de Jair Bolsonaro 544wq

Por Renato Alves
Publicado em 11 de agosto de 2023 | 14:22
 
 
Joias enviadas pelo governo da Arábia Saudita seriam um presente pessoal para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro Foto: Marcello Casal JrAgência Brasil

A Polícia Federal aponta evidências de que outros presentes dados a Jair Bolsonaro (PL) quando ele presidente da República, além dos que já se sabia por meio de investigações, foram desviados do patrimônio da União no suposto esquema que tinha como autores militares de extrema confiança do ex-presidente. No relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir mandados de busca e apreensão usados na operação desta sexta-feira (11), há uma mensagem enviada por Marcelo Câmara a Mauro Cid no início do ano. Ambos são tenentes-coronéis do Exército e trabalhavam no Palácio do Planalto na gestão ada.

“O que já foi, já foi. Mas se esse aqui tiver ainda a gente certinho pra não dar problema. Porque já sumiu um que foi com a Dona Michelle; então pra não ter problema”, diz transcrição do áudio enviado por Câmara. “As mensagens revelam que, apesar das restrições, possivelmente, outros presentes recebidos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro podem ter sido desviados e vendidos sem respeitar as restrições legais”, ressalta relatório da PF.

Os investigadores identificaram ao menos outros cinco itens que teriam sido negociados pelos assessores de Bolsonaro. Entre eles, estão dois relógios, duas estátuas douradas – uma de barco e outra de palmeira – e um kit de joias que continha caneta, anel, abotoaduras e um rosário árabe. A PF calcula que esses objetos renderam cerca de R$ 1 milhão. No relatório enviado ao PF, a corporação diz que o dinheiro apurado com os presentes ia para Bolsonaro.

PF aponta ‘determinação’ de Bolsonaro para venda de presentes 2hv2x

Com base no relatório da PF, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, concluiu que, por “determinação de Jair Bolsonaro”, mostrou-se um esquema criminoso para desviar presentes de alto valor recebidos pelo ex-presidente quando estava à frente do Poder Executivo brasileiro. Tais itens foram vendidos principalmente nos Estados Unidos, conforme a investigação que culminou na operação desta sexta-feira.

Moraes retirou, no fim da manhã, o sigilo da decisão em que autorizou a busca e apreensão em endereços  do general do Exército Mauro César Lourena Cid, pai de Mauro Cid; do tenente do Exército Osmar Crivelatti, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e do advogado Frederick Wassef, que já defendeu o ex-presidente e seus familiares. No documento, Moraes trata o grupo de Bolsonaro como organização criminosa. 

“Em período não delimitado do ano de 2023, nos Estados Unidos da América, Jair Messias Bolsonaro, Mauro Cesar Barbosa Cid, Marcelo Costa Câmara, Osmar Crivelatti, Mauro César Lourena Cid e outras pessoas não identificadas, uniram-se, com unidade de desígnios, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos recursos financeiros decorrentes da alienação dos bens desviados do acervo público brasileiro. Tais recursos ficaram acautelados e sob responsabilidade do general da reserva Mauro César Lourena Cid, pai de Mauro Cesar Barbosa Cid, e posteriormente transferidos, em dinheiro espécie, para a posse de Jair Messias Bolsonaro”, escreveu Moraes.

O ministro do STF ainda ressalta que o grupo usou da autoridade e da estrutura da Presidência da República para “desviar presentes de alto valor recebidos em razão do cargo pelo ex-Presidente da República e/ou por comitivas do governo brasileiro, que estavam atuando em seu nome, em viagens internacionais, entregues por autoridades estrangeiras, para posteriormente serem vendidos no exterior”.

"Assim, destaca a Polícia Federal que (a) os dados analisados indicam a possibilidade de o Gabinete Adjunto de Documentação Histórica do Gabinete Pessoal da Presidência da República (GADH/GPPR) – órgão responsável pela análise e definição do destino (acervo público ou privado) de presentes oferecidos por uma autoridade estrangeira ao Presidente da República – ter sido utilizado para desviar, para o acervo privado do ex-Presidente da República, presentes de alto valor, mediante determinação de Jair Bolsonaro", completa o ministro na decisão.

PF indica que bens foram extraviados com uso de avião presidencial  3z491w

Em outro trecho do documento, Moraes afirmou que o avião presidencial usado no governo de Jair Bolsonaro “provavelmente” foi utilizado para extraviar bens de alto valor, recebidos pelo Estado brasileiro, e que teriam sido alvo de tentativa de venda para benefício pessoal.

O transporte teria sido feito em 30 de dezembro de 2022, data em que Bolsonaro viajou aos Estados Unidos. Ele deixou o Brasil um dia antes do fim de seu mandato, e não reou a faixa presidencial na posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O avião presidencial é de responsabilidade da Força Aérea Brasileira (FAB) e todas as viagens são financiadas com dinheiro público.

“As diligências realizadas indicam que JAIR MESSIAS BOLSONARO e sua equipe utilizaram o avião presidencial, no dia 30/12/2022, para evadir do país os bens de alto valor desviados, levando-os para os Estados Unidos da América e, na sequência, os referidos bens teriam sido encaminhados para lojas especializadas em venda e em leilão de objetos e joias de alto valor, situadas nas cidades de Miami/FL, Nova Iorque/NY e Willow Grove/PA (IPJs nº 22306028/2023 e 2249788/2023)”, escreveu Moraes.