HISTÓRICO DE RUSGAS

Gleisi Hoffmann evita indisposição com afago e elogios a Haddad durante cerimônia de posse

Presidente Lula deu posse à ministra Gleisi Hoffmann nas Relações Institucionais; ela assume o cargo de Alexandre Padilha, agora ministro da Saúde

Por Ana Paula Ramos e Lara Alves
Publicado em 10 de março de 2025 | 17:44

BRASÍLIA — No primeiro ato público como ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT) optou por minimizar as divergências que acumulou com o ministro Fernando Haddad (PT) à frente da área econômica do Palácio do Planalto e evitou indisposições com afagos e elogios à atuação dele no Ministério da Fazenda.

“Estarei aqui, ministro Fernando Haddad, para ajudar na consolidação das pautas econômicas desse governo, as pautas que você conduz e que estão colocando novamente o Brasil na rota do emprego e do crescimento da renda”, disse. A declaração aconteceu durante a cerimônia de posse de Gleisi Hoffmann nesta segunda-feira (10). Ela substitui Alexandre Padilha, direcionado ao Ministério da Saúde com a demissão de Nísia Trindade.

A mensagem de Gleisi a Haddad é um gesto ao ministro para amenizar, pelo menos publicamente, as muitas rusgas que acumulou com ele durante os primeiros dois anos do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A condução da pauta econômica por Haddad foi alvo de críticas de Gleisi Hoffmann, enquanto presidente do PT, em inúmeras ocasiões. Publicamente, a petista exigia mais gastos e investimentos; enquanto Haddad tentava controlar as indisposições com o mercado e a exigência de contenção das despesas. 

A manifestação de Gleisi, agora ministra, não se dirigiu apenas a Fernando Haddad. Ela também acenou para Rui Costa, ministro da Casa Civil de Lula — o principal aliado petista no Palácio do Planalto. Ela também prometeu fortalecer a “ampla coalizão” em gesto à bancada do Centrão. “Dialogando com as forças políticas do Congresso e com as expressões da sociedade, suas organizações e seus movimentos. Chego para colaborar com todos os ministros e ministras, respeitando os espaços e as competências de cada um e cada uma. Tenho plena consciência do meu papel de articulação política”, afirmou.

Outros nomes também aparecem no discurso de posse, e Gleisi se lembrou de citar nominalmente o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ao reforçar o papel das instituições na manutenção da democracia. “Meu agradecimento ao ministro Alexandre de Moraes na defesa da democracia e, agora, da soberania nacional. Respeitamos e temos relações com todos, mas o Brasil é dos brasileiros e das brasileiras”, disse em referência aos embates recentes entre as big techs norte-americanas e o ministro.

Troca na liderança do governo

A cerimônia de posse de Gleisi Hoffmann aconteceu diante de Isnaldo Bulhões (MDB-AL), principal cotado para a Secretaria de Relações Institucionais — e que acabou preterido em prol da petista. Também compareceu à solenidade o líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), postulante à articulação política e que não conseguiu a indicação do presidente Lula para o cargo.

Às vésperas do início do evento, Isnaldo elogiou a capacidade de diálogo de Gleisi Hoffmann e negou insatisfação do Centrão com a opção do Palácio do Planalto de colocá-la no cargo. “Não há insatisfação do bloco. Sempre deixei muito claro que o fato de eu ser lembrado para uma função tão nobre [articulação política de Lula] me deixou muito feliz. É um reconhecimento das relações que procuro construir”, disse. “Ela [Gleisi] atende a todos os atributos necessários para as funções que o presidente hoje designou para ela”, completou.

Depois que Lula optou pela aliada para as Relações Institucionais, o nome de Isnaldo Bulhões surgiu como o principal para assumir a liderança do governo na Câmara dos Deputados com a saída de José Guimarães, tratada como iminente por aliados. O líder do MDB, entretanto, negou a possibilidade. “Não houve rejeição da minha parte [em relação à liderança do governo]. A gente conversa muito, eu e Gleisi. Acho que o papel da liderança do governo continuará sendo muito bem feito pelo deputado José Guimarães. Não rejeitei a função de líder do governo”, declarou.