EX-PRESIDENTE

De ‘caçador de marajás’ a condenado e preso por corrupção: veja trajetória política de Collor

Fernando Collor, que foi eleito presidente em 1989 sob a bandeira de guardião da moral, sofreu impeachment, condenação e acabou preso 

Por Renato Alves
Atualizado em 25 de abril de 2025 | 10:40

BRASÍLIAPreso na madrugada desta sexta-feira (25) no aeroporto de Maceió, capital de Alagoas, dois anos depois de ter sido condenado por corrupção, Fernando Collor de Mello, de 75 anos, chegou à Presidência da República com a bandeira de guardião da moral.

Conhecido nacionalmente como “caçador de marajás”, por causa da sua política à frente do governo de Alagoas, quando empreendeu um combate a alguns funcionários públicos que recebiam salários altos, foi eleito em 1989 o 32º presidente do Brasil.

Ficou no cargo de 1990 a 1992, quando renunciou enquanto respondia a um processo de impeachment aprovado pelo Senado Federal. Processo aberto em meio a uma onda de escândalos de corrupção em seu breve governo.

Antes de ser presidente, Fernando Collor foi prefeito de Maceió (1979 a 1982), deputado federal (1982 a 1986) e governador de Alagoas (1987 a 1989). Foi o presidente mais jovem da história do país, eleito aos 40 anos pelo Partido da Reconstrução Nacional (PRN).

Collor foi o primeiro presidente eleito por voto direto do povo após a ditadura militar (1964-1985). Sucedeu José Sarney, ao derrotar Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno, em 1989.

Planos, confisco, recessão e corrupção

Seu governo foi marcado pelo Plano Collor. Festejada no início, mesmo com o confisco da caderneta de poupança, logo a iniciativa aprofundou a recessão econômica, colaborando para a extinção, em 1990, de mais de 920 mil postos de trabalho.

Para tentar estancar a crise, foi lançado ainda o plano Collor II – assim como o primeiro sob a batuta da então ministra da Fazenda Zélia Cardoso de Mello – e o Plano Marcílio – pelo substituto dela, Marcílio Marques Moreira. No Plano Marcílio, o Brasil conviveu com a hiperinflação.

Em meio à crise econômica, apareceram denúncias de corrupção política envolvendo o tesoureiro de Collor, Paulo César (PC) Farias, feitas por Pedro Collor de Mello, irmão do presidente, que levaram à abertura do processo de impeachment. 

Antes da votação do processo, Collor renunciou ao cargo em 29 de dezembro de 1992, deixando-o para seu vice Itamar Franco, horas antes de ser condenado pelo Senado Federal por crime de responsabilidade, perdendo os direitos políticos por oito anos. 

Mortes do irmão, da mãe e do ex-tesoureiro

Collor ingressou com pedido no Superior Tribunal de Justiça (STJ)para reaver o direito de exercer cargo público, preservado, conforme disse, pelo fato de que sua renúncia ocorreu antes de aberta a sessão que decidiu pela condenação. 

Mas, em dezembro de 1993, o STJ manteve-o inelegível e inapto ao exercício de cargos e funções públicas por entender que a renúncia não ou de um “ardil jurídico”. Em julgamento um ano depois, o Supremo Tribunal Federal (STF) arquivou o processo contra Collor e PC Farias, acusados de corrupção iva. 

Uma semana após essa decisão, o ex-presidente recebeu a notícia da morte do irmão Pedro Collor, vítima de câncer no cérebro. Pouco depois morreu a mãe, Leda Collor de Mello, vítima de broncopneumonia, em 25 de fevereiro de 1995, internada durante o processo de impeachment.

Seis meses depois, Collor mudou-se para Miami, nos Estados Unidos, onde permaneceu até 1998, quando retornou ao Brasil. Nesse ínterim,  em 23 de junho de 1996, PC Farias foi encontrado morto em Maceió, ao lado da então namorada Susana Marcolino. 

O caso foi cercado de controvérsias. O laudo pericial divulgado pelas autoridades locais declarou PF Farias vítima de “crime ional” cometido pela namorada, que a seguir teria cometido suicídio. Versão constatada até hoje por diversos peritos.

De volta ao Brasil, foi eleito senador

Collor retornou ao Brasil e escolheu a cidade de São Paulo como domicílio eleitoral e filiou-se ao inexpressivo PRTB, pelo qual tentou uma candidatura a prefeito, barrada pelo fato de que a suspensão dos direitos políticos perduraria até depois da eleição.

De volta a Alagoas, Fernando Collor disputou o governo estadual em 2002 pelo PRTB e foi o segundo colocado com 419.741 votos (40,2% dos válidos, à época), sendo derrotado no primeiro turno pelo governador reeleito Ronaldo Lessa (PSB), que obteve 553.035 votos (52,9%).

Em 2006, Collor foi eleito senador por Alagoas, filiado então ao PRTB, porém migrando para o PTB logo no primeiro dia no Senado, a convite do então deputado federal Roberto Jefferson (RJ), presidente da legenda e um dos poucos que lhe haviam prestado em 1992 fidelidade durante o processo que resultou no seu impeachment.

Em 10 de maio de 2010, Collor anunciou a sua pré-candidatura ao governo de Alagoas. No fim do mês, foi acusado de fazer campanha antecipada ao inaugurar 174 casas populares em Coruripe‎ (AL), configurando crime eleitoral.

Condenado após perder eleição em Alagoas

Nas eleições de 2022, candidatou-se a governador de Alagoas, com apoio do então presidente Jair Bolsonaro (PL). Ficou em terceiro lugar, com 14,71% dos votos válidos. Em maio de 2023, foi condenado pelo STF à pena de 8 anos e 10 meses de prisão por corrupção iva e lavagem de dinheiro.

Collor foi condenado pelo recebimento de R$ 20 milhões em propinas da UTC Engenharia em troca do direcionamento de contratos de BR Distribuidora. Também foram condenados o ex-ministro Pedro Paulo Bergamaschi e o operador Luís Pereira Duarte de Amorim. 

A sentença, proferida em uma das ações da Operação Lava Jato, determina ainda que os três paguem solidariamente uma multa de R$ 20 milhões por danos morais coletivos.

Na última quinta-feira (24), o ministro Alexandre de Moraes, do STF, negou recurso de Collor e mandou prender o ex-presidente. Agentes da Polícia Federal (PF) cumpriram a ordem na madrugada desta sexta (25) e detiveram Collor no aeroporto de Maceió

O ex-presidente foi levado para a Superintendência da PF em Maceió. À equipe de O TEMPO em Brasília, a corporação informou que aguarda uma orientação do STF para saber se deverá transferir o ex-presidente para Brasília ou se o mantém na capital alagoana.

A pedido de Moraes, o presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, marcou uma sessão em plenário virtual para esta sexta. Os 11 ministros têm até às 23h59 para apresentar seu voto. A análise pode ser adiada por algum pedido de vista – mais tempo para se informar sobre o caso.

Defesa fala em “surpresa e preocupação”

Advogados de Collor disseram que ele viajaria para a capital federal para “o cumprimento espontâneo do mandado de prisão”, ainda de acordo com sua defesa. A defesa do ex-presidente afirmou ainda que recebeu a ordem de prisão com “surpresa e preocupação”.

“Ressalta a defesa que não houve qualquer decisão sobre a demonstrada prescrição ocorrida após trânsito em julgado para a Procuradoria Geral da República. Quanto ao caráter protelatório do recurso, a defesa demonstrou que a maioria dos membros da Corte reconhece seu manifesto cabimento. Tais assuntos caberiam ao Plenário decidir”, disse a defesa em nota.