GOVERNO X OPOSIÇÃO

Em evento marcado por críticas a Zema, Lula assina concessão da BR-381

Falas marcam novo momento da comunicação do governo federal; governador rebateu falas de presidente e seus ministros

Por Levy Guimarães
Atualizado em 22 de janeiro de 2025 | 13:54

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou nesta terça-feira (22) o contrato de concessão da BR-381, no trecho que a por Minas Gerais. Durante o evento, no Palácio do Planalto, o governador de Minas, Romeu Zema (Novo), foi criticado diversas vezes pelo petista e seus ministros.

Os discursos marcam um novo momento na comunicação do governo, sob a gestão de Sidônio Palmeira, novo ministro da Secretaria de Comunicação (Secom).

Após a "crise do Pix", atribuída por governistas a falhas na condução da área, o Planalto trabalha para não perder o controle da narrativa e para impedir que a oposição ganhe espaço no debate público. Outro objetivo de Sidônio é uma aproximação maior de Lula com temas de interesse regional nos diferentes Estados do país.

O Propag, programa que renegocia a dívida dos Estados com a União e que foi sancionado por Lula no dia 14 de janeiro, tomou parte dos discursos na cerimônia. O presidente e seus ministros se dedicaram a criticar a postura de Zema, que teceu críticas a um dos vetos feitos ao projeto.

“A palavra ‘obrigado’ é tão simples, mas para falar ‘obrigado’ é preciso ter grandeza. [...] Esse acordo das dívidas de Minas Gerais, dos Estados como um todo, o governador de Minas Gerais deveria vir aqui me trazer um prêmio, um troféu de primeiro presidente da República que ele tem conhecimento que nunca vetou absolutamente nada de nenhum governador e de nenhum prefeito por ser oposição’, disse Lula.

“O que nós fizemos para os estados que não pagavam a dívida talvez só Jesus Cristo fizesse se ele concorresse à presidência da República desse país. Porque essa é uma escola de vida que eu tenho”, emendou o presidente.

Ministros reforçam o coro, Zema responde

Os ministros Renan Filho (Transportes) e Rui Costa (Casa Civil), que discursaram na cerimônia, também fizeram questão de citar de forma crítica o governador de Minas Gerais. O intuito é fortalecer a imagem de que o governo federal tem tentado resolver as questões dos entes federados, abrindo mão de receitas, apesar da oposição. 

Renan criticou a ausência de Zema, que para ele, parece "política". “Ele não pode priorizar a política contra o interesse do cidadão. É isso que o governo de Minas faz ao não estar presente quando está sendo dada a solução ampla, geral e irrestrita para a ‘rodovia de morte’ de Minas Gerais, um dos principais problemas rodoviários do país”, disse.

Já o ministro Rui Costa disse que “ao invés de agradecer a um presidente que colocou questões políticas de lado e o povo de Minas Gerais como o maior interessado, o governador vai de forma ingrata agredir o presidente”.

Logo depois, Zema foi às redes sociais rebater as declarações feitas no evento. “Lula, o PT prometeu essa mesma obra nos 188 meses de governo, mas não entregou. Por isso, quando for colocar máquina na pista, fiscalizar ou inaugurar trechos da obra na BR-381 eu estarei à disposição. Meu foco é trabalhar, não perder tempo com eventos burocráticos”, publicou.

BR-381

A concessão da BR-381, assinada nesta terça-feira (22), prevê que o investimento chegue a R$ 10 bilhões em 30 anos de concessão. 

Serão feitas obras em uma extensão de 303,4 km. O início será na capital mineira, em Belo Horizonte, no entroncamento com a BR-262/MG ((que segue para Sabará), e vai até a cidade de Governador Valadares, no entroncamento com a BR-116/MG. 

A “rodovia da morte” é uma das estradas federais com o maior registro de acidentes em todo o país. Somente no primeiro semestre de 2024, foram 347 acidentes, uma média de um acidente a cada 12 horas. Entre os problemas, estão traçados altamente sinuosos, pistas simples na maioria do percurso, baixa manutenção da estrutura e ausência de iluminação e sinalização.  

O projeto de readequação prevê 51 mudanças no traçado da BR-381, com a duplicação de 106 quilômetros de rodovia que am por 13 cidades. Ainda, a construção de 83 quilômetros de faixas adicionais, áreas de escape, pontos de parada e descanso para caminhoneiros e 23 arelas para a travessia de pedestres. 

O plano inicial é de que, em 100 dias, seja feita uma reabilitação da estrada para garantir segurança viária. Nessa lista, estão reparo de pavimento, especialmente em trechos esburacados, além de pontes e viadutos, e recuperação de sinalização e de iluminação.

A BR-381 será istrada pela Concessionária Nova 381, criada pelo grupo 4UM Investimentos, que venceu o leilão. O pedágio será gratuito ao longo do primeiro ano de contrato e, depois disso, terá desconto para moradores e trabalhadores da região. Haverá opção de pagamento automático para motoristas, por meio do uso de TAGs.  

A BR-381 é tida como um importante corredor logístico para o escoamento de produtos industriais. A rodovia atravessa o Vale do Aço, no interior de Minas Gerais, e interliga o Estado mineiro, São Paulo e Espírito Santo. A estrada tem um fluxo intenso de caminhões, ônibus e veículos leves no trecho ao longo de 13 cidades. O tráfego médio é de 24,7 mil veículos ao dia.

Zema já bateu boca com Haddad

O governador de Minas Gerais também já trocou farpas com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. após a sanção com vetos do Propag pelo presidente Lula. Também via redes sociais, Zema disse que o governo federal “quer que os estados paguem a conta de sua gastança”. Ele alega que os vetos de Lula trarão um prejuízo de R$ 5 bilhões para os cofres públicos de Minas Gerais entre 2025 e 2026.

Haddad disse que o governador mineiro “esconde a verdade”. Segundo o ministro, Zema omitiu o fato de ter se reunido com ele e apresentado “uma proposta bem menor que a aprovada e sancionada” e escondeu a informação de que o veto criticado por ele “simplesmente pedia que a União pagasse dívidas dos estados com bancos privados”.