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Quem era Francisco Luiz, o homem responsável pelas explosões em Brasília
Seguidor de Bolsonaro e Olavo de Carvalho, ele participou de outros ataques ao STF. Tem ficha criminal e recebeu auxílio emergencial na pandemia
BRASÍLIA - O catarinense Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, é o homem que morreu após explosões na área central de Brasília na noite de quarta-feira (13). Ele teria se matado após tentar entrar no Supremo Tribunal Federal (STF) com bombas e ser impedido por seguranças.
Nascido em Rio do Sul (SC), no Alto Vale do Itajaí, onde mantinha um ponto comercial como chaveiro, Francisco tinha longa ficha criminal e histórico de militância na direita brasileira. Na cidade catarinense, em 2020, ele foi candidato a vereador pelo PL, recebeu 98 votos e não se elegeu. Seu nome de urna era Tiü França.
Na eleição, ele declarou à Justiça Federal ser casado, ter o ensino médio incompleto e atuar como chaveiro. Em nota divulgada nesta quinta-feira (14), o PL disse ser contra qualquer violência. “Reforçamos ainda que ataques a instituições públicas vão contra os princípios defendidos pelo partido”, diz trecho do comunicado.
Ainda na declaração à Justiça Eleitoral em 2020, Francisco comunicou ter R$ 263 mil em bens, incluindo uma moto, três carros e um prédio residencial. Já Rio do Sul tem pouco mais de 72 mil habitantes, conforme censo de 2022 do IBGE.
Francisco Luiz estava morando em Ceilândia (DF) desde julho. Até então, trabalhava como chaveiro em Rio do Sul. Foi sócio de pequenas casas noturnas da cidade catarinense. Tinha sete irmãos – dois já falecidos – e dois filhos e um enteado, que também trabalhava como chaveiro nos últimos meses.
Lesão corporal, perturbação à ordem e dívidas
A Polícia Federal levantou que Francisco foi preso em flagrante por lesão corporal em 2012. Também responde processo por ter feito uma festa durante a pandemia, desrespeitando as restrições sanitárias contra a Covid-19. No sistema do Tribunal de Justiça de Santa Catarina ele também aparece em quatro processos de dívida ativa.
Apesar de atacar as medidas contra a Covid-19, questionar os perigos do vírus e ser um defensor do “Estado zero”, Francisco pediu auxílio emergencial do governo durante a pandemia. Recebeu 14 parcelas em 2020 e 2021, sendo cinco de R$ 600, duas de R$ 300 e outras sete de R$ 150.
Nas redes sociais, além do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o autor das explosões na Praça dos Três Poderes enaltecia o escritor e filósofo Olavo de Carvalho, que é considerado o “guru do bolsonarismo” e morreu em decorrência da Covid-19 – ele também atacava medidas sanitárias e minimizava os perigos do vírus.
Em suas contas no X e no Facebook, Francisco Luiz seguia várias páginas de direita, como Brasil Paralelo, , Jornal da Cidade Online, Movimento Avança Brasil-RS, Espaço Enéas Carneiro e Terça Livre – Cursos. Os donos de algumas dessas páginas, como Allan dos Santos, são investigados nos inquéritos do STF por supostamente atentarem contra a democracia com disseminação de ódio e fake news.
Participação em acampamentos a favor de intervenção militar
Francisco Luiz participou de um protesto em que os participantes hostilizaram o ministro do STF Luís Roberto Barroso, em Porto Belo, no litoral de Santa Catarina, em novembro de 2022. Na ocasião, o magistrado precisou ser escoltado para sair em segurança do restaurante que estava.
Francisco participou de vários outros atos contra o STF, a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a favor da intervenção militar para manter Jair Bolsonaro na Presidência, após a vitória do petista nas urnas em 2022. Ele esteve em acampamentos montados por apoiadores de Bolsonaro em frente a quartéis do Exército em Santa Catarina.
Essas informações foram dadas pela ex-mulher dele a agentes da Polícia Federal, na manhã desta quinta. Agentes filmaram a conversa com a mulher em frente à casa de madeira onde ela mora, em Rio do Sul. em entrevista coletiva, o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, disse que as declarações dela são importantes.
A mulher disse aos agentes que Francisco já havia anunciado planos de atentado em Brasília, mirando o ministro Alexandre de Moraes, do STF. Segundo ela, o ex-marido deixou claro que iria à Brasília matar o magistrado. E, caso não conseguisse entrar no prédio do Supremo, se mataria – como acabou fazendo.
A mulher contou ainda que decidiu acabar o casamento justamente por causa do extremismo de Francisco. Ele deixou Rio do Sul em julho dizendo que viajaria a eio, mas nunca mais voltou. Investigadores de Brasília descobriram que ele alugou uma quitinete em Ceilândia, a 30km da Praça dos Três Poderes, no mesmo mês. Policiais estiveram no endereço na noite de quarta e encontraram explosivos.
Conhecido de deputado federal catarinense
Pouco antes das explosões de quarta, Francisco publicou em suas redes sociais anúncios de atentado na capital federal que durariam até sábado (16).
“Pai, Tiü França não é terrorista, né? (...) Ele apenas soltou uns foguetinhos para comemorar o dia 13. Tem cheiro de carniça, igual cachorro quando morre”, escreveu em uma das mensagens pouco antes de morrer com uma das suas bombas.
Em outra postagem, faz referência direta à Brasília e à quarta-feira, dia 13. “Distrito Federal Brasília 13 novembro 2024. Eu: Francisco Wanderley Luiz mais conhecido Tiü França (ETE x PNEU) 'Miguel' Sugiro a vocês uma data especial para iniciar uma revolução. Após este grande acontecimento, vocês poderão comemorar a verdadeira proclamação da república!!! 'Em espírito estarei na linha de frente com minha espada erguida" DEUS NOS ABENÇOE.”
Nos cinco meses no Distrito Federal, Francisco Luiz esteve no Congresso Nacional e no STF. Ele foi ao plenário do Supremo e ao gabinete do deputado federal Jorge Goetten (Republicanos).
A ida dele ao STF ocorreu em 24 de agosto. Ele participou de uma visita guiada, oferecida a turistas. Ele chegou a visitar o plenário da Corte e postou uma foto no local. “Deixaram a raposa entrar no galinheiro (chiqueiro)”, escreveu.
Já Goetten disse em entrevista, também quarta, que conhecia Francisco há mais de 30 anos, e que nas visitas dele ao gabinete ambos falaram do ado. Segundo ele, a última agem do chaveiro pelo gabinete ocorreu em agosto deste ano.
Investigadores disseram que mensagens no WhatsApp indicam que ele planejou o atentado à bomba. “Algumas delas [mensagens] têm conteúdo que antecipavam o ocorrido no dia de hoje, manifestando previamente a intenção do autor em praticar o autoextermínio e o atentado a bomba contra pessoas e instituições”, diz trecho da ocorrência registrada pela Polícia Civil do DF ainda na noite de quarta.
Mensagens com teorias de extremistas norte-americanos
Em seu perfil no Facebook, Francisco reproduzia teorias conspiratórias anticomunistas como o QAnon, populares na extrema direita norte-americana. Antes do atentado de quarta-feira, Francisco Luiz deixou vários prints de mensagens de texto em suas redes sociais, além daquelas que anunciavam bombas em Brasília.
Algumas dessas mensagens eram para políticos brasileiros e estrangeiros, como Donald Trump, recém-eleito presidente dos Estados Unidos, e os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD).
“Donald Trump, se você ama e respeita as crianças, acelera a operação Storm. Mande o FBI aqui para a Ilha de Marajó. No Brasil, não temos Justiça, nem Polícia Federal. O que temos é Gestapo, mas não serve para nada. Aliás, serve sim: prender velhinhas inocentes”, escreveu o chaveiro brasileiro.
Já para Lira e Pacheco, a mensagem continha ironia e ameaça: “Vou cantar uma música para vocês dormirem bem: Senta aqui neste banco pertinho de mim, vamos conversar. Será que você tem coragem de olhar nos meus olhos e me encarar? Agora, chegou a sua hora, chegou a sua vez. Você vai pagar.”
Diretor da PF conecta Francisco a grupos extremistas
O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, informou que forças de investigação trabalham com terrorismo como uma das hipóteses iniciais das explosões em Brasília na noite de quarta-feira. A outra, de acordo com ele, seria abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
Andrei Rodrigues destacou, em entrevista coletiva na manhã desta quinta-feira, que ainda não sabe as motivações do homem responsável pelo atentado e não descarta, com isso, que outras linhas de investigação sejam consideradas.
A PF também considerou acreditar que o ataque foi planejado a longo prazo, e um dos indícios seria o trailer estacionado com explosivos na Câmara dos Deputados. O veículo foi identificado nesta quinta-feira.
“Esse trailer foi alugado há alguns meses, não foi uma coisa bem recente, e que estava em um ponto estratégico nas proximidades do STF, o que nos aponta para, de fato, um planejamento de médio, talvez longo prazo, e que canalizam e sinalizam a gravidade de tudo isso que foi feito”, disse Rodrigues.
A presença do homem em Brasília em outras oportunidades também é considerada pelas forças de investigação como um indício do longo planejamento do atentado. “Essa pessoa já esteve em outras oportunidades em Brasília. Ele estava em 2023. Ainda é cedo para dizer se houve participação direta dele nos atos de 8 de janeiro, isso a investigação dirá”, declarou o diretor-geral da PF.
Andrei Rodrigues afirmou que o caso conecta com outras investigações em andamento na PF, como a dos atos de depredação das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. A constatação se deu pela mensagem deixada pelo homem para Débora Rodrigues no espelho de uma casa que alugou em Ceilândia.
“Debora Rodrigues. Por favor, não desperdice o batom. Isso é para deixar as mulheres bonitas, estátua de merda se usa TNT", escreveu ele. Débora é ré por pichar com um batom a frase “perdeu, mané” na estátua da Justiça em 8 de janeiro de 2023. Francisco Luiz lançou bombas em direção à estátua na última quarta.
O diretor-geral da PF disse que a ação das explosões foi individual, mas que ataques do tipo, geralmente, são “sempre permeadas por outras iniciativas”. Um dos focos da investigação será saber se Francisco Luiz recebeu apoio logístico ou financeiro.
Francisco Luiz provocou uma série de explosões na Praça dos Três Poderes, em frente ao prédio do STF, na noite de quarta. Em um momento, ele segurou um artefato que o matou ao explodir.
O homem também estacionou seu carro, um Kia Shuma, próximo à Câmara dos Deputados. O veículo estava carregado de explosivos que, de acordo com as informações iniciais, foram acionados à distância, de forma remota.
O corpo dele ou a noite no local pelo risco de novas explosões, enquanto o esquadrão antibomba do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar desativou outros artefatos encontrados. Também foram identificados um trailer alugado por Francisco e estacionado na Câmara, próximo ao carro. A casa alugada por ele estava armada com explosivos.